Lá estava você, usando a blusa azul que eu amo, com o cabelo bagunçado e parecendo procurar alguém. Do
outro lado da rua estava eu, com aquele vestido florido que você me deu, o
cabelo preso, e sem saber o que fazer.
Por um segundo, achei que deveria
ir até você, te dar um abraço e perguntar como estava a sua família, seus
amigos, o seu emprego e a vida. Se você tinha conseguido ser promovido no
trabalho, se havia passado aquela fase no vídeo game e se tinha feito aquela
viagem para Europa. Tive vontade de saber se você estava bem, se estava feliz e
realizado. Se os seus sonhos ainda eram os mesmos, e se algum novo havia
surgido.
Desejei olhar nos seus olhos mais
uma vez, nem que aquela fosse a última, te dizer que tudo o que senti por você foi
verdadeiro, que em três anos tive um dos melhores relacionamentos da minha vida,
que com você eu soube aproveita cada momento, e que eu aprendi a me valorizar, a enxergar os meus defeitos e qualidades todos os
dias e fazer as mudanças necessárias para ser alguém melhor.
Queria te agradecer por sempre
ter sido honesto comigo, e muitas vezes insistente em relação ao que eu fazia.
Por me mostrar quando eu estava errada, por me apoiar sempre que necessário e
por me aceitar da maneira que sou.
A minha vontade naquele momento
era sentar e conversar sobre coisas que apenas nós dois conhecemos, rir das
piadas que só a gente entende e voltar no tempo que eu e você estávamos juntos,
compartilhando momentos que até hoje estão guardados em minha memória...
Em meio a todo esse pensamento,
você continuava parado, olhando para os lados e para o relógio, com certeza
esperando alguém, mas quem? Seria uma namorada? Um amigo? Algum familiar? Ou será
que você estava me esperando? Afinal, você sabia que todo sábado de manhã eu
passava por aquela rua.
O sinal de pedestres abriu e eu
não sabia o que fazer, de repente senti medo da possibilidade de você me ver,
de ter que te cumprimentar e perguntar como estavam todos, inclusive você. A
vontade de te olhar nos olhos sumiu, assim como a de saber se você tinha
conseguido tudo o que um dia desejou ou ainda deseja.
Eu congelei e não sabia o que
fazer. Deveria ir até você ou voltar para casa? Passar na sua frente e fingir
que não te vi? Ou passar olhando para ti até você notar? Fingir que estava no
celular para ter uma desculpa de não parar para te cumprimentar? O que eu faria agora? A ansiedade
foi aumentando e com ela veio o desespero.
Decidi dar meia volta e voltar
para casa, de alguma forma achei melhor não saber o que poderia acontecer
naquele momento. Deixei o ar vir no meu rosto e fechei os olhos para me acalmar, tentando não pensar mais em você, ou no seu jeito único que me fez sentir um amor
diferente de qualquer outro que eu já tenha sentido.
Desejei ter um controle que desse
uma pausa nos meus sentimentos ou que me deixasse mudar de canal. Queria que
alguém chegasse e me fizesse parar de pensar em você, em nós e em tudo que a
gente já tinha passado junto, mas aquilo parecia ser algo impossível. Então ouvi alguém chamar o meu nome, e quem poderia imaginar que esse alguém era
você, vindo com o sorriso no rosto, parecendo feliz em finalmente me ver.
Naquele
momento senti que a sua voz era o meu controle, e que me rendi a
você e ao seu amor no momento em que corria para o seus braços.
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